sexta-feira, 28 de novembro de 2014

VIDA CONSAGRADA NA IGREJA HOJE: Evangelho, profecia, esperança


No próximo dia 30 de novembro tem início o Ano da Vida Consagrada conclamado pelo Papa Francisco. Sob o tema Vida Consagrada na Igreja hoje: Evangelho, profecia e esperança, esse ano almeja ser um grande convite à renovação. “Um convite autorizado dirigido a nós com a leveza da confiança, um convite a por a zero as argumentações institucionais e as justificações pessoais, uma palavra provocadora que chega a interrogar o nosso viver às vezes entorpecido e sonolento, vivido muitas vezes à margem do desafio... Um convite que nos encoraja a mover o espírito para dar razão ao Verbo que habita entre nós, ao Espírito que cria e que constantemente renova a sua Igreja.”[1]
Por trás de tantas motivações, parece-nos que a grande questão que deverá nortear nossas reflexões e vivências ao longo desse ano é a da IDENTIDADE da Vida Consagrada. Ora, para redescobrir nossa identidade é necessário voltar às fontes e, a sua luz, ler o tempo presente. A Vida Consagrada surgiu como uma resposta profética, num momento em que o Cristianismo se mostrava demasiadamente distante do Evangelho de Jesus de Nazaré, acomodado às seguranças do aparato imperial.  A fuga mundi foi uma maneira que muitos homens e mulheres, desejosos de viver a radicalidade da vocação cristã, encontraram para conformar as suas vidas à do Mestre Jesus. Não obstante, ao longo dos séculos, sob o sopro do Espírito, foram surgindo outras tantas formas históricas de vida consagrada: a vida monástica, a ordem das virgens, os eremitas, as viúvas, os institutos inteiramente dedicados à contemplação, a vida religiosa apostólica, os institutos seculares, as sociedades de vida apostólica, as novas expressões de vida consagrada (cf. VC 5-12).[2]
Nesse ano, a comemoração dos 50 anos de aprovação do Decreto Perfectae Caritatis sobre a conveniente renovação da Vida Religiosa, do Concílio Vaticano II, é também uma feliz oportunidade para crescermos nesse autoconhecimento e consequente aggiornamento da Vida Consagrada.  O seguimento de Cristo, a fidelidade ao carisma fundacional, a comunhão eclesial, a atenção aos sinais dos tempos e a renovação espiritual – princípios outrora postos para a conveniente renovação – devem ainda hoje provocar-nos a todos. Ademais, como nos aponta o decreto conciliar, os religiosos fiéis à sua profissão, devem seguir a Cristo como única coisa necessária, sabendo conciliar a contemplação com o amor apostólico, cultivando com esforço contínuo a vida de oração, alimentando-se todos os dias do Pão da Palavra e da Eucaristia.[3]
Oxalá, que esse Ano da Vida Consagrada seja acolhido por todos os consagrados e consagradas e encontre em nossas comunidades o solo fecundo que fará germinar as suas sementes e oferecerá à Igreja e ao mundo seus frutos! Que a alegria do Evangelho que enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus seja cotidianamente testemunhada e celebrada por esses homens e mulheres! Que a chama da Vida Consagrada que arde em cada um de nós e nos impulsiona a doar a vida pela Vida brilhe cada vez mais forte e atraia ao seu calor os que vivem na escuridão de uma vida sem sentido! E que a nossa vida, consagrada ao Senhor, seja, sobretudo, reflexo fiel da vida Dele que passou pelo mundo fazendo o bem (cf. At 10,38)!


Frei Tailer Douglas Ferreira
Diadema/SP



[1] CONGREGAÇÃO PARA OS INTITUTOS DE VIDA CONSAGRADA E AS SOCIEDADES DE VIDA APOSTÓLICA.  Alegrai-vos: carta circular aos consagrados e consagradas. São Paulo: Paulinas, 2014, p. 7.
[2] Cf. PAPA JOÃO PAULO II. Vita Consecrata: sobre a vida consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo. 6. ed. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 10-21. (Exortação apostólica pós-sinodal)
[3] Cf. CONCÍLIO VATICANO II. Perfectae Caritatis, 1965. Decreto. In.  Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965). São Paulo: Paulus, 1997, p. 277-295.